domingo, 23 de setembro de 2007

Do aprendiz de poeta aos artistas cristãos


Hoje, não quero me dirigir somente aos músicos, mas a todos os artistas cristãos. Aos poetas, aos compositores e autores, a atrizes e atores, a pintores e professores e a tantos que exercem o dom da arte dada por Deus. Quero me dirigir ao artista que mora dentro de ti. Mesmo que nem você ainda tenha notado isso e deixado aflorar esse dom!Que a tua arte sirva para fazer o ser humano enxergar humildemente o amor disfarçado em música e vestido de poesia e tantas outras artes. Que cada frase das tuas canções se torne uma fotografia.Que bastem duas palavras em uma canção para nascer uma cena de perdão e misericórdia na mente e no coração dos filhos e filhas de Deus.Que os poetas ensinem. Que os aprendizes queiram aprender ardentemente.


Tenho certeza que dentro de ti, meu irmão e irmã, encontra-se o poder que Deus te destinou para ser transformado em grandes palavras, melodias, ensinos, obras, enfim, em grandes feitos para a humanidade, exatamente como o sol que fornece vida às flores perfumadas do campo.Não há música católica no mundo como a música católica do Brasil. Permite que eu te chame assim então: Meu amigo representante da arte celestial. Alegre-se, pois tu representas a boca da justiça e o livro da vida.Contente-se, pois tu és a fonte da virtude para os que a buscam. Em marcha, pois Deus te constituiu para ser o pilar da integridade para aqueles que te seguem. E se acaso a desgraça te derrotou algumas vezes, saiba que ela é a mesma força que ilumina teu coração e faz elevar tua alma do fosso da zombaria ao trono da admiração.


Meu querido artista de Deus: Que tuas canções sejam o amanhecer, entre o adormecimento e o despertar. Que a tua mais triste canção tenha o poder de suavizar nossos sentimentos.Que a tua mais alegre canção tenha o poder de cicatrizar nossos corações feridos.Que tua arte nos faça lembrar sempre, que a Divindade é a parte verdadeira do homem. Não pode ser vendida a peso de ouro; nem pode ser acumulada como são as riquezas do mundo de hoje.Que tua arte tão rica e tão simples alerte tantos jovens que se esqueceram de seu Deus e buscam apenas auto-absolvição e prazer. E se alguma vez chorou, meu artista amigo, saiba que as lágrimas que verteu, têm mais pureza que o riso estrondoso daquele que se mostra forte e intocável. tuas lágrimas contêm a doçura que não há na ironia do sardônico. Que as tuas lágrimas limpem o coração da morbidez do ódio e ensinem o homem a participar da dor dos desvalidos. Suas lágrimas são as lágrimas do nazareno! Rezo para que toda a tua arte, todo o teu ensinamento e todo o teu viver já se torne hoje um profundo aprendizado para todos nós. E as gerações futuras aprenderão da riqueza deixada por ti em forma de poesia, arte e vida que a tristeza e a pobreza são nada mais, nada menos que uma profunda lição de amor e igualdade.


A tua melodia tem que ter o poder de tirar o ser humano da mesmice! A tua harmonia e poesia têm de levar o homem a participar dos salmos de glória e da sabedoria eterna.Tua arte tem de levar a alma a buscar o significado do mistério que o céu contém.Quando compuser, amigo poeta, busque saber o que cantam os pássaros e o que sussurram os riachos. E que em tua arte esteja contido o murmurar das ondas que, vagarosa e suavemente, beijam as praias.A ti eu imploro: Nos impressione mostrando em tua arte que tu compreendes o que diz a chuva quando ela cai sobre as folhas das árvores. Que teus ouvidos de artista possam ouvir o que a brisa confessa às flores do campo.Que tuas letras, músicos cristãos, nos descrevam o que a alma e a natureza conversam entre si!Ao meu ver, somente os artistas de Deus possuem o dom de transformar em canção o que a Sabedoria Eterna fala numa linguagem tão misteriosa.Tua poesia não pode ser uma poesia qualquer; ela tem de ser filha da alma e do amor!Nenhum poeta descreve melhor o sonho do coração humano como o poeta cristão. Que tu sejas o inspirador de poetas, de compositores e dos grandes realizadores.Faça com que a arte sacra seja vinho do coração e que nos faça regozijar num mundo de sonhos.Que tua obra encoraje guerreiros e fortaleça as almas. Que o teu viver mostre ao mundo que existe um mar de perdão e de ternura em que podemos mergulhar.Que tuas melodias nos revelem que existe um lugar onde podemos descansar nossos corações e almas.E aos músicos em particular em peço: Que tua música nos ensine a ver com os ouvidos e a ouvir com os corações.


Do eterno aprendiz de poeta

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

POR QUE VOCÊ NÃO PÁRA DE IR À IGREJA?


Quem nunca se deparou com esta frase? Quem não enfrentou este questionamento na faculdade, no trabalho ou na própria família? Qual jovem já não foi tentado com esta pergunta? E eu te pergunto também: “por que você não parou de ir à Igreja”?
Após alguns anos de caminhada é bom que todos nós nos questionemos realmente o porquê não paramos de ainda de ir à Igreja. Essa resposta existe e está com Deus dentro de nós.
Não paramos porque Deus não quis. Ele segurou. Ele fortaleceu nossa fraqueza. Deus nos sustentou e nos alimentou.
Lembra daquelas situações tristes da caminhada, das quais ninguém te entendia, ninguém percebia o que você estava passando? Lembra das vezes em que você foi desprezado ou mandado embora do lugar que você mais amava? Diante destas situações, era pra você ter largado tudo. Mandado tudo “para o espaço”. E por que você não fez? Por que não largou tudo na hora que seu grupo de oração, que sua comunidade, sua paróquia , ou até mesmo você estava em crise?
A resposta está no sol, na lua, nas estrelas, na terra. Por que o sol não despenca? Por que a terra se move e não cai? Porque tudo tem uma ordem e um sustento. A ordem é a fidelidade que todo ser humano traz em si e o sustento é este eixo invisível chamado Vontade de Deus.
A fidelidade associada à vontade de Deus supera todas as dificuldades dos anos de caminhada e nos lança sempre numa perspectiva de futuro. O Santo Padre João Paulo II dava a isto o nome de “sinergia”, ou seja, o nosso esforço pessoal somado a Dom de Deus. A fidelidade é um Dom. Ela é de Deus, mas o querer é nosso. Deus não nos violenta. E por isso não nos obriga a caminhar.
Mas, e quem realmente parou de caminhar... era vontade de Deus? Não. Com certeza parar de caminhar não é vontade de Deus e sim do próprio ser humano. Quem pára de caminhar é porque na verdade nunca descobriu o verdadeiro Caminho. Contudo, a vontade de Deus também é volta. Se vale a pena permanecer fiel quanto mais voltar à fidelidade.
O ser humano em sua composição foi formado com fidelidade e esta fidelidade libera com mais facilidade vontade de Deus.
Por que eu não parei de ir à Igreja? Porque Deus não quis e este acesso Ele conseguiu através da minha fidelidade.
Fidelidade é milagre.


Silvinho Zabisky - Fundador da comunidade BEATITUDES DO CORAÇÃO DE JESUS

domingo, 16 de setembro de 2007

O outono nosso de cada dia...


Certa vez, sabiamente, Pe. Fábio comparou nossa vida a um ano cronólogico, com suas 4 estações. E nos fez perceber que nunca pode ser verão o ano inteiro, e tampouco inverno para sempre... Há muito há se retirar dessa analogia...Durante o outono há uma preparação silenciosa dos vegetais a fim de suportar o que virá; as folhas ficam amarelas e caem. É uma linda estratégia de sobrevivência e de reconhecimento da sua fragilidade diante do momento que está por vir. Ao perceber a aproximação do tempo frio e da baixa luminosidade, os vegetais iniciam a produção de um hormônio, que deflagra o cair das folhas, a fim de reduzir o metabolismo durante o inverno, para que eles consigam suportar a situação adversa. Eles transferem toda energia armazenada das folhas para o caule, até que a primavera chegue, por isso as folhas caem. Sem folhas para fotossintetizar, o gasto de energia é menor, e assim dá para atravessar o inverno sem problemas. Com a queda das folhas, ela fica com um aspecto de morta. Mas, por dentro, existe uma reserva de energia muito grande, na forma de nutrientes. O metabolismo diminui, mas nunca cessa. Apesar do inverno frio que se aproxima, ela não desiste, ela decide sobreviver, apesar de saber que atravessará invernos todos os anos, uns mais rigorosos que outros... mas permanece em pé. Interessantemente, esse mesmo hormônio, que permite o cair das folhas é responsável pelo amadurecimento dos frutos, na época da frutificação...Entretanto, apesar do frio, da neve, existe beleza nessa estação... as folhas amareladas e marrons espalhadas pelo chão... e a certeza de que depois do inverno, vem SEMPRE uma primavera, estação cheia de flores e alegria.É preciso adaptar-se às estações da vida, à mutabilidade dos eventos que se sucedem durante o período de nossa existência. Aos olhos espirituais, cada estação é oportunidade de exercitar as virtudes que tanto anseiamos. Paciência, humildade, sabedoria, discernimento, amor... as provas são necessárias, assim como no esporte e no colégio.
Pe. Fábio diz sempre que é necessário reconciliar os contrários da nossa vida. Reconciliar os contrários é fazer dos nossos invernos, adversidades, problemas, dores, degraus para crescer na fé... durante esses períodos é comum a queda, o desânimo, o desespero, talvez. Mas, diante disso é preciso recomeçar, sempre, mesmo quando não há mais folhas em nossa árvore, mesmo quando elas estão espalhadas pelo chão, ou mesmo quando o vento frio as levou, não se sabe pra onde. É preciso recomeçar, porque existe um jardineiro maior, que nos regar diariamente, e que não se importa com a queda das nossas folhas, ele até a permite, porque sabe o que está fazendo. Ele se importa sim, com o que há para ser feito na próxima primavera...Que Deus seja nossa força! Paz e bem.. beijos e bençãos!!!

Marianne

Um trecho da Carta do Papa João Paulo II aos artistas- 1999



A todos aqueles que apaixonadamente procuram novas « epifanias » da beleza para oferecê-las ao mundo como criação artística.
« Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa » (Gn 1,31).
O artista, imagem de Deus Criador


1. Ninguém melhor do que vós, artistas, construtores geniais de beleza, pode intuir algo daquele pathos com que Deus, na aurora da criação, contemplou a obra das suas mãos. Infinitas vezes se espelhou um relance daquele sentimento no olhar com que vós — como, aliás, os artistas de todos os tempos —, maravilhados com o arcano poder dos sons e das palavras, das cores e das formas, vos pusestes a admirar a obra nascida do vosso génio artístico, quase sentindo o eco daquele mistério da criação a que Deus, único criador de todas as coisas, de algum modo vos quis associar.
Pareceu-me, por isso, que não havia palavras mais apropriadas do que as do livro do Génesis para começar esta minha Carta para vós, a quem me sinto ligado por experiências dos meus tempos passados e que marcaram indelevelmente a minha vida. Ao escrever-vos, desejo dar continuidade àquele fecundo diálogo da Igreja com os artistas que, em dois mil anos de história, nunca se interrompeu e se prevê ainda rico de futuro no limiar do terceiro milénio.
Na realidade, não se trata de um diálogo ditado apenas por circunstâncias históricas ou motivos utilitários, mas radicado na própria essência tanto da experiência religiosa como da criação artística. A página inicial da Bíblia apresenta-nos Deus quase como o modelo exemplar de toda a pessoa que produz uma obra: no artífice, reflecte-se a sua imagem de Criador. Esta relação é claramente evidenciada na língua polaca, com a semelhança lexical das palavras stwórca (criador) e twórca (artífice).
Qual é a diferença entre « criador » e « artífice »? Quem cria dá o próprio ser, tira algo do nada — ex nihilo sui et subiecti, como se costuma dizer em latim — e isto, em sentido estrito, é um modo de proceder exclusivo do Omnipotente. O artífice, ao contrário, utiliza algo já existente, a que dá forma e significado. Este modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus. Com efeito, depois de ter afirmado que Deus criou o homem e a mulher « à sua imagem » (cf. Gn 1,27), a Bíblia acrescenta que Ele confiou-lhes a tarefa de dominarem a terra (cf. Gn 1,28). Foi no último dia da criação (cf. Gn 1,28-31). Nos dias anteriores, como que marcando o ritmo da evolução cósmica, Javé tinha criado o universo. No final, criou o homem, o fruto mais nobre do seu projecto, a quem submeteu o mundo visível como um campo imenso onde exprimir a sua capacidade inventiva.
Por conseguinte, Deus chamou o homem à existência, dando-lhe a tarefa de ser artífice. Na « criação artística », mais do que em qualquer outra actividade, o homem revela-se como « imagem de Deus », e realiza aquela tarefa, em primeiro lugar plasmando a « matéria » estupenda da sua humanidade e depois exercendo um domínio criativo sobre o universo que o circunda. Com amorosa condescendência, o Artista divino transmite uma centelha da sua sabedoria transcendente ao artista humano, chamando-o a partilhar do seu poder criador. Obviamente é uma participação, que deixa intacta a infinita distância entre o Criador e a criatura, como sublinhava o Cardeal Nicolau Cusano: « A arte criativa, que a alma tem a sorte de albergar, não se identifica com aquela arte por essência que é própria de Deus, mas constitui apenas comunicação e participação dela ».(1)
Por isso, quanto mais consciente está o artista do « dom » que possui, tanto mais se sente impelido a olhar para si mesmo e para a criação inteira com olhos capazes de contemplar e agradecer, elevando a Deus o seu hino de louvor. Só assim é que ele pode compreender-se profundamente a si mesmo e à sua vocação e missão.
(Giseli)